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terça-feira, 24 de julho de 2012


Rui Costa emigrou antes do senhor primeiro ministro o sugerir, estabeleceu-se no ciclismo espanhol, e teima em contrariar a tendência de Portugal ser conhecido no mundo do ciclismo pelos gregários de luxo, sem qualquer menosprezo para os gregários é claro, mas Rui Costa está talhado para vencer!
Falámos com o poveiro sobre as vitórias, sobre o futuro, sobre o passado, passamos pelos adversários e pelos companheiros de equipa, pela selecção nacional e até houve tempo para uns conselhos sobre apostas! Desde o primeiro momento vão reparar na enorme humildade e sentido de trabalho, bem como na noção das suas próprias capacidades sem falsa modéstia. Para além disso a simpatia do Rui Costa só encontra paralelo na sua capacidade de vencer, tudo para conferir a seguir na entrevista ao NoticiasCiclismo.net.

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Ainda és um atleta jovem e já tens um excelente pecúlio no ciclismo internacional, é tudo o que esperavas até agora?

Antes de mais quero agradecer ao Notícias Ciclismo por esta oportunidade. Eu desde pequeno que sonhava em ser ciclista profissional e do escalão World Tour. Se esperava conseguir tão cedo, talvez não, mas esse era um desejo muito antigo.

Qual foi para ti a maior dificuldade na primeira época de Pro Tour? Gostaste desde logo da tua equipa?

A minha primeira dificuldade foi adaptar-me ao ritmo que ali se corria, à língua espanhola e ao número de quilómetros das corridas, na sua maioria, mais compridas que em Portugal. Da equipa gostei logo, fui bem recebido e acarinhado e é por isso que ainda ali estou até hoje.

Não é um bocado aborrecido ouvir falar tão pouco Português durante a época?

Felizmente já se vai falando mais Português. É claro que era óptimo se tivéssemos ainda mais representantes lusos lá fora, mas o número tem vindo a aumentar de ano para ano e se assim continuar, já é muito bom. E ainda bem para o nosso ciclismo que assim é.

Como é vencer no Tour? Vencer uma etapa da maior prova do mundo, da mais prestigiada e mais icónica, muda alguma coisa? É como passar um determinado ponto na carreira?

Estaria a mentir se dissesse que não, é sim como dar um passo em frente na nossa carreira. Sinto que sou mais reconhecido tanto fora como dentro do ciclismo. A equipa também confia e aposta mais em mim, depois das conquistas do ano passado. É certo que ficamos com alguma pressão e responsabilidade em cima de nós, mas até esse sentimento se torna bom, por ser por uma boa causa.

E vencer um atleta como Gilbert? No tour ameaçou a tua etapa, e na GP de Montreal também andou lá por perto, dá mais gozo quando se bate um homem de nome como ele?

O Gilbert foi o melhor ciclista do mundo em 2011 e espera-se que este ano seja igual. Eu ganhei essas duas vezes porque já vinha fugido, tenho noção que em pé de igualdade não o conseguia bater. Ainda tenho muito que aprender e evoluir, e o Gilbert é já um veterano do ciclismo e está no auge da sua carreira.

Não achas que já era tempo de ele também começar a incluir-te no lote de favoritos para as corridas de um dia? Inclusive já referiu algumas vezes que o Sagan será um homem a ter debaixo de olho, que o Valverde é fortíssimo, etc…e o Rui Costa? Não é bom o Gilbert começar a pensar em ti também?

Como disse anteriormente, em igualdade de circunstâncias seria muito difícil batê-lo, mas se eu estiver bem fisicamente, arranjo maneira de ganhar, ou pelo menos tento sempre. Talvez ainda seja cedo para ele começar a pensar em mim como um evidente adversário. Deixem-me amadurecer e aprender mais um par de anos e depois voltamos a conversar (risos).

Já que falei no Valverde, como está a ser conviver com um ciclista como ele que é uma máquina de ganhar, principalmente no mesmo terreno que apontam como sendo o preferencial para ti? Pedes-lhe conselhos?

O Valverde é um grande senhor dentro e fora do ciclismo. Não é preciso pedirmos conselhos, basta ver a forma como ele corre e aprender com isso. É um enorme profissional e quero continuar a aprender com ele.

O facto de ele ter ingressado na Movistar após a suspensão, retirou-te algum espaço? Afinal no ano anterior ganhaste, mostraste que podes bater-te com os melhores, e agora chega á equipa alguém com créditos firmados e que ainda por cima podemos dizer que é da casa, para apontar principalmente a provas onde tu poderias brilhar.

O facto do Alejandro ter voltado à sua casa foi muito bom pois ele é um vencedor nato, e para além de dar mais confiança e firmeza à equipa, tira-nos alguma pressão de cima. O importante não é ser um ou outro a ganhar, importante é estarmos todos unidos e fazermos da nossa equipa uma das mais vitoriosas da World Tour e, consequentemente, uma das melhores do mundo. Afinal de contas somos uma equipa e temos um trabalho conjunto.

Serás sempre um atleta para ganhar etapas e corridas de um dia, ou podemos esperar daqui a uns anos um Rui Costa a discutir voltas de três semanas?

Nem eu sei. É verdade que já fiz 1.º e 2.º no Giro delle Regioni, fiz 2.º no Tour de l'Avenir, mas também já venci importantes corridas de um dia, como em Montréal. Importante é vencer, seja em que corrida for. O futuro é incerto, mas não queria ficar-me pelas vitórias em clássicas ou etapas. A ver vamos se continuo a evoluir como até aqui e se assim for, a discussão das grandes voltas pode não ser impossível.

No ano passado nem começaste da melhor forma, no entanto fizeste uma ótima época. Este ano estás a começar muito bem, vais acabar ainda melhor?

Na passada época comecei nas clássicas das Ardenas, corridas muito duras e para as quais não tinha ainda o ritmo competitivo necessário. Por isso não comecei da melhor forma, mas os resultados não tardaram a aparecer. Quando se é bom, honesto e trabalhador, os resultados aparecem sempre. Sei que é muito difícil fazer uma época tão boa como a anterior, mas vou dar o meu melhor para que assim seja.

Quais são os teus maiores objetivos para esta época?

Eu não sou atleta de definir objectivos a longo prazo. Prefiro viver um dia de cada vez e aproveitar cada corrida ao máximo. No entanto, não escondo que gostava de fazer uma época idêntica a 2011, na medida do possível.

Gostarias de representar a nossa seleção nos Jogos Olímpicos? Se sim, o que seria para ti um bom resultado em Londres?

É sempre bom representar as cores da nossa bandeira, seja em que corrida for, mas as Olimpíadas têm um sabor especial. A edição deste ano não me é favorável pois tudo indica que a vitória se discutirá ao sprint e esse não é o meu forte. Se for convocado, darei o meu melhor para ajudar algum colega mais rápido e trazer um bom resultado para a nossa selecção.

E participar nos nacionais? Muitas vezes tem-se dito que os atletas portugueses a correr no estrangeiro que não têm interesse em disputar os nacionais, o que pensas sobre esse tipo de afirmações? Tens previsto corrê-los este ano?

Eu falo por mim e não concordo com essa afirmação, pois tenho participando sempre nos nacionais e não descarto estas corridas do meu calendário. Só não as fiz no ano passado por opção da equipa, mas espero fazê-los este ano e trazer para casa um bom resultado.

Já reparaste que no ciclismo atual, os emigrantes portugueses estão em equipas de topo e a ocupar lugares que podemos dizer que são de destaque. É uma situação que me faz lembrar o nosso futebol nos anos 90, só emigravam os melhores e para os grandes clubes, no entanto agora o futebolista português é uma espécie que invadiu toda a europa a todos os níveis. Achas que no ciclismo há condições para no futuro assistirmos a algo parecido e vermos imensos ciclistas lusos em todo o tipo de equipas?

Eu ia adorar se isso acontecesse. Eu continuo a achar que se dá ainda pouco valor a esta modalidade e aos ciclistas portugueses. Espero que as próximas gerações tenham mais sorte e apoio que nós, e que o ciclismo chegue a ter o mesmo estatuto do futebol, pois é considerado o desporto mais duro do mundo e tem todo o mérito para ser valorizado como os outros.

Para finalizar, a título pessoal vou-te confidenciar que se correres a Liége-Bastogne-Liége aposto todo o meu dinheiro em ti. Posso apostar?

É melhor não. Se apostares, aposta pouco porque podes perder e eu não quero ser responsável por isso (risos). Vou correr sim a Liége mas, por mais bem, optimista e ambicioso que eu esteja, nesta modalidade é tudo muito imprevisível e depende muito do factor sorte, o qual não se pode manipular. Se eu pudesse, ganhava muitas mais corridas, mas a maioria delas não depende de mim para o conseguir, mas das circunstâncias em que a mesma se desenrola.

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